Sem photoshop: baianas aderem a projeto que mostra pessoas comuns nuas
No Brasil, o fotógrafo americano esteve em São Paulo, Rio de Janeiro e
Recife, mas acabou voltando por causa da quantidade de inscrições |
FOTO: Matt Blum |
Na era do culto à perfeição, quatro baianas mostraram uma coragem
impensada: exibiram seus corpos imperfeitos como eles são, sem retoques.
Foi com essa premissa que Hávata West, Glauce West, Ellen Trindade e
Caroline Paternostro posaram desnudas para o fotógrafo americano Matt
Blum, 31 anos, que criou o The Nu Project com a proposta de destacar as
diferentes belezas, da forma mais natural possível, sem interferência do
Photoshop. “Quando eu comecei a fotografar nus, as obras que eu via
eram modelos com medidas ideais. Ocorreu-me que deve haver uma maneira
de mostrar as mulheres, de qualquer tamanho ou forma, e fotografar
bonito e respeitosamente”, explica o artista. Deu certo. Com o The Nu
Project, que existe desde 2005, Blum esteve em diversos países,
acompanhado da sua esposa, a também fotógrafa Katy Kesslera, à procura
de mulheres dispostas a posar sem roupas.
No Brasil, Matt esteve em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, mas acabou
voltando por causa da quantidade de inscrições. “Eu sabia que estava
fazendo algo diferente, mas não poderia imaginar o sucesso que o projeto
teve”, conta o fotógrafo. A segunda vinda ao Brasil teria que ser para a
cidade de maior demanda, e adivinha qual foi? Salvador foi a capital
brasileira que mais recebeu inscrições. “A Bahia é um dos meus lugares
preferidos no Brasil. As mulheres baianas são muito abertas”, diz Matt,
em bom português.
Apesar de não ter vergonha do seu corpo, a artesã e massoterapeuta
Glauce West, 30 anos, assumiu que sentiu um frio na barriga na hora das
fotos. “Ele é tão tranquilo que tem um momento que você até esquece que
está nua, ainda mais porque as fotos acontecem dentro de nossa casa”,
conta Glauce. Já sua irmã, a estudante de Belas Artes Hávata West, 22
anos, contou que, inicialmente, teve pudor, por ser um homem. “Mas ele
chegou supertranquilo e quis conhecer minha casa para escolher o melhor
lugar”, relembra Hávata.
O resultado dessa delicadeza é que tanto ela quanto a irmã estão aí nas
fotos, expostas exatamente como são, sem truques para esconder as
temidas estrias e celulites. “Uso muito o Photoshop, mas não mudo as
caracteristicas das modelos”, revela Matt. Foi justamente isso que
atraiu o interesse das meninas, já que, para posar, não precisavam estar
dentro dos padrões de beleza.
O sucesso do trabalho do americano rendeu um livro, o The Nu Project, que ainda está em fase de produção | FOTO: Matt Blum |
“Eu fui convidada para posar nua outras vezes, mas não aceitei.
Participei deste justamente pela ideia de mostrar mulheres de vários
lugares, com vários tipos de corpos”, revela a designer Ellen Trindade,
27 anos, que considera o projeto importante para quebrar preconceitos.
“O inconsciente coletivo não muda de uma hora para outra, mas quem tem
uma sensibilidade maior vai mudando”, conclui.É claro que o diferente
atrai, mas nem sempre acontece de forma positiva. Em fevereiro, a página
Catraca Livre, do Facebook, publicou a fotografia que Blum fez de
Glauce lavando pratos em sua casa. Choveram comentários machistas e
preconceituosos. Muita gente saiu em defesa da necessidade de quebrar a
ditadura estética proposta hoje em dia.
Mas a melhor resposta vem da própria Glauce: “Fico triste por perceber
tamanha ignorância das pessoas, mas isso não é nenhuma surpresa. Sinto
muito por aqueles que não conseguem entender as diferenças”. O sucesso
do trabalho de Matt Blum rendeu um livro, o The Nu Project, que ainda
está em fase de produção. Os ensaios na íntegra estão disponíveis no
site thenuproject.com. Tem inscrição aberta, mas não para brasileiras.
Em novembro deste ano, a dupla desembarca na Espanha e em Portugal para
novas sessões de fotos.